É o que vivemos hoje e é o que os EUA viveram há cerca de 60 anos atrás, durante o movimento pelos direitos civis e fim da segregação.
Poucos pintores talvez tenham expressado esse sentimento de polarização tão bem quanto Norman Rockwell, um dos artistas cujas obras retratam, melhor que ninguém, tais extremos.
Possuindo um talento raro para o realismo-beirando o hyper realismo-Durante décadas Norman pintou extremos. Inicialmente, retratando a “família” e o seu cotidiano-o que lhe rendeu severas críticas, sendo chamado por muitos críticos de “mero ilustrador”, um talento desperdiçado.
Entretanto, já em sua fase artística mais madura, Rockwell abraça causas ligadas aos direitos civis e ao fim da segregação racial nos EUA do início dos anos 60.
Nesse período-meu favorito-Rockwell pintou, dentre outras, o quadro The Problem We All Live In, uma obra de extrema força narrativa!
A obra retrata a afro-Americana Ruby Bridges, a época com 6 anos de idade, sendo escoltada por 4 agentes para uma escola restrita a brancos em Nova Orleans, durante o auge da crise causada por uma decisão da Suprema Corte americana, que considerou inconstitucional a segregação racial nas escolas públicas. A criança é escoltada por agentes federais objetivando cumprir a decisão. O caminho percorrido revela o protesto odioso pichado na parede, com o “n” word e as letras kkk.
A obra se encontra exposta no museu Norman Rockwell, em Stockbridge, Massachusetts.
Outra obra extremamente forte e impactante de Rockwell, novamente protagonizada por crianças, é New Kid in the Neighbourhood. A imagem fala por si! As crianças, negras de um lado e brancas do outro, frente a frente, umas com um cachorro e outras com um gato. Muito simbólico!
Por fim, a obra mais impactante de Rockwell é Murder in Mississipi (1964) a qual retrata o assassinato de 3 ativistas (fotos anexas) pro direitos civis pelo xerife local Price e membros da KKK. A impactante obra possui uma perspectiva horizontal, retratando os 3 ativistas à esquerda e o xerife e membros da Klan à direita, apenas as suas sombras projetadas no solo. Uma curiosidade (continua)
Para realizar a pintura, fiel ao realismo, Rockwell usou modelos (veja fotos com o processo de pintura) e seu próprio sangue (a referência fiel é importantíssima para o pintor realista) em sua blusa branca. A obra é monocromática em sépia, com exceção para o sangue na camisa de uma das vítimas.
Para quem achava que Rockwell pintava banalidades, eis aí uma obra prima do realismo que documenta uma época triste da nossa história, a qual esperamos nunca mais se repita!